A
explosão global do escândalo LuxLeaks, a 6 de Novembro – meros 5 dias após o
início de funções de Jean-Claude Juncker – manietou seriamente a suposta
renovada dinâmica que a nova Comissão Europeia se propunha imprimir, logo desde
o início, ao projecto europeu. Nesse dia, Juncker faltou à cerimónia pública
que tinha prevista a sua presença, e desde aí tem gerido as suas aparições com
parcimónia e cuidado. Mas a moção de censura da extrema-direita europeia acabou
por funcionar a favor do luxemburguês, ao permitir-lhe emergir mais forte
depois de um voto de respaldo ainda mais significativo do que aquando da sua
eleição original pelo mesmo Parlamento Europeu.
Mas
o espectro LuxLeaks é grande, e promete continuar a assombrar a Europa. Os
holofotes incidiram repentinamente sobre os negócios obscuros – “legais”, mas
obscuros – que a administração tributária do pequeno Grão-Ducado celebra com
milhares de multinacionais de forma a que estas consigam escapar ao pagamento
dos seus impostos devidos nos países onde efectivamente conduzem os seus
negócios e obtêm as suas receitas, apenas deixando no Luxemburgo um montante
que frequentemente equivale a 1% dos seus lucros – e por vezes nem isso, dado
que os lucros também podem ser mascarados de muitas formas.
Tal
como em outros centros mundiais BEPS (Base
Erosion and Profit Shifting, algo como erosão da base tributária e
transferência de lucros), como Jersey, ilhas Caimão ou Hong Kong, também aqui
há centenas de companhias registadas num único endereço. O número 46A da
avenida J.F. Kennedy alberga mais de 1300 empresas. O edifício na avenida Charles
de Gaulle n.º 2 apresenta 1450, e o recordista é o edifício na rua Guillaume
Kroll n.º 5, em Cloche d’Or (a dois passos de edifícios onde funcionam a
Comissão e o Parlamento europeus): ali estão registadas mais de 1600 companhias
diferentes.
Não
é preciso ser muito bom com números para perceber que nem todas estas empresas
têm verdadeiros escritórios ou actividade (no sentido estrito do termo) no
país. Simplificadamente, a lei só requer que elas apresentem uma morada, um
contacto, uma conta bancária carregada, e a demonstração que “decisões importantes”
são tomadas no Luxemburgo.
Só
que essas decisões importantes sonegam aos cofres públicos dos países europeus dinheiro
que lhes era devido em impostos – dinheiro de todos nós, cidadãos europeus. Quanto
dinheiro? Muito, muitíssimo, tanto que é praticamente incalculável. Uma
estimativa relativamente conservadora aponta para que a economia europeia como
um todo perca – a cada ano – 900 mil milhões de euros para a evasão e elisão
fiscais, um valor que cobriria mais de 11 vezes o empréstimo que Portugal teve
de pedir à troika e que será pago em
décadas, à custa de uma economia em frangalhos.
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