Uma expedição portuguesa - a segunda
naquela zona, depois de Cabral se ter desviado "ligeiramente" da sua
rota para a Índia e encontrado novas terras a Ocidente, a que chamou da Vera Cruz -
desceu ao longo da costa então coberta pela luxuriante mata atlântica até desembocar
numa baía tão extensa que poderia ter sido criada pela foz de um enorme rio. Estava-se
no dia de Ano Novo do ano da graça de 1502, ou seja em janeiro, o mês mais
sufocante por alturas do trópico de Capricórnio. Gaspar de Lemos, o
capitão da expedição, socorreu-se da cândida falta de imaginação usada para preencher tantos
novos locais para a cartografia. Tinha sido avistado um grande rio durante o mês de
janeiro, logo assim ficou crismado para todo o sempre - Rio de Janeiro.
Não há qualquer rio que desague na baía da
Guanabara, mas ao contrário da história corrente, os exploradores não cometeram um erro geográfico básico: na altura não existiam
diferentes definições para os diversos tipos de corpos de água, pelo que a baía foi (às regras da
época) correctamente identificada. E em seguida esquecida, pois o dinheiro
que havia para ser ganho naquela novíssima parte do expansionista império português estava
mais a norte, em Salvador, ou nas parcas oportunidades proporcionadas por
entrepostos ao longo da costa. Só uma ameaça externa reavivou o interesse pela área: os
franceses, desejosos de abocanhar algum naco de riquezas coloniais, aliaram-se
aos índios tupinambás contra os portugueses e estabeleceram na baía a sua própria colónia, a que
chamaram, com eternas e típicas ilusões de grandeza, "la France Antarctique".
Os portugueses, naqueles tempos, reagiam. E
fizeram-no aliando-se a uma tribo rival, os temiminós, que auxiliaram o
explorador Estácio de Sá a destruir a fortaleza francesa em 1560. Estácio viria a fundar
formalmente a "Colónia de São Sebastião do Rio de Janeiro" a 1 de Março de 1565 - a data que o Rio actual, megalópolis com
6,5 milhões de habitantes e segunda maior urbe de língua portuguesa no mundo,
quer comemorar em 2015 (450 anos). A mítica avenida Atlântica, em Copacabana, ostenta
orgulhosamente todas as diferentes bandeiras que a cidade já viu, desde
a cruz gamada sobre fundo branco das caravelas até à verde do Império
Brasileiro de D. Pedro II, o imperador relutante. Tudo entre os milhares de
cores das festas de réveillon, quando a cidade explode de alegria, tantos séculos depois daquele 1.º de
Janeiro.
O Rio é algo de especial, um aglomerado global que é simultaneamente uma cidade genial - com tudo o
que isso implica de loucura. Mas sendo criação de muitos e pertença de todos, a cidade é inevitavelmente motivo de orgulho, pois é em enorme parte uma invenção portuguesa. Desde o comerciante Cosme Velho,
que deu nome à
rua que leva ao Cristo Redentor, até ao rei que fugindo de Napoleão fez da cidade capital do Império (única vez da História em que um império europeu esteve baseado fora da Europa),
passando pelos 1,5 milhões
de portugueses que para ali emigraram ao longo do século XX, a cidade é nossa História mas também presente. E para tantos jovens cérebros portugueses sem oportunidades no seu país e chegados nos últimos anos à Barra da Tijuca ou Ipanema, é previsivelmente o futuro.
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