É raro que uma pessoa se torne notícia pelo simples acto
de migrar; habitualmente essa honra está reservada aos jogadores de futebol,
seja no país de origem ou no de destino. Mais rara ainda é essa notícia se a
migração se fizer no sentido Portugal -> Luxemburgo, tal é a avassaladora
frequência desse acontecimento. Mas foi isso mesmo que aconteceu esta semana a
Paulo Veríssimo, um cientista da Universidade de Lisboa. Veríssimo foi
contratado pelo Fonds National de Recherche para desenvolver uma equipa de
investigação na área da segurança informática de grandes sistemas, por exemplo
aqueles ligados às infra-estruturas críticas. Era esse o trabalho que,
torneando obstáculos sucessivos, procurava desenvolver em Portugal, um país que
nas suas próprias palavras “não concretizou ainda sequer a sua política de
cibersegurança” – ou seja, continua vulnerável a um hipotético ciberataque
hostil à sua rede eléctrica, só para dar um exemplo.
A migração de Paulo Veríssimo, um dos grandes
especialistas mundiais na área, não é notícia apenas pelo simbolismo de ver um
professor prestigiado a seguir o mesmo caminho tantas vezes trilhado por
compatriotas a quem faltaram oportunidades no país natal, nem apenas pela perda
que o seu trabalho representa para Portugal. É-o também por ser consequência
directa das opções tomadas pelo mesmo Governo de Lisboa que insta os jovens
licenciados a abandonar o país. Agora, a Fundação para a Ciência e Tecnologia
(FCT), nome pomposo da organização governamental para a área, impôs uma
“avaliação” altamente duvidosa a todas as instituições científicas com o
objectivo – nem sequer inconfessado… – de cortar metade delas, asfixiando-as
financeiramente. A estratégia é apelidada pelos seus mentores de “uma poda”.
Mas ninguém que perceba da poda vai alguma vez cortar de uma assentada metade
do pomar, sobretudo baseando-se em critérios difusos e aleatórios, como é o
caso. Esta machadada acontece precisamente na altura em que a ciência
portuguesa estava a crescer, aproximando-se da média europeia. Agora, é
dizimada pelos próprios dirigentes cuja primeira missão deveria ser a sua
promoção; os países precisam de ciência e tecnologia para se desenvolverem,
para evitarem a condenação a um papel periférico e um atraso atávico. Hotéis e
praia não chegam para construir um futuro.
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