Quando um presidente está a chegar ao fim do seu mandato
e é sabido que este não será renovado, o presidente é apelidado no mundo
anglo-saxónico de “pato manco” (lame duck).
O termo nasceu na Bolsa de Londres há mais de dois séculos para designar alguém
que não era capaz de pagar as suas dívidas – tal como um pato que, por ser
manco, não conseguia acompanhar o seu bando tornando-se assim numa presa fácil.

Em 2002, ao ser empossado primeiro-ministro português,
Barroso foi apelidado pela sua própria esposa de “cherne”. E durante a sua
longa década aos comandos da Europa, Barroso ganhou em Bruxelas outro cognome
oriundo do reino animal: o “camaleão”, devido à facilidade com que mudava de
cor política para ir tentando agradar aos poderosos Estados-membros que lhe
deram o emprego, nomeadamente Alemanha e Reino Unido. A mesma Alemanha que
centrífuga a Europa. O mesmo Reino Unido que ostraciza a Europa, que se crê
superior à Europa, e cujos políticos utilizam a Europa como bode expiatório e
alvo de demagogia.
O ainda presidente da Comissão Europeia fartou-se. Ontem,
em Londres, o pato manco Barroso teve a subtileza do elefante na loja de
porcelanas: avisou David Cameron que ele está a cometer “erros históricos”, e
que a defesa da Europa se deve fazer agora, e não em desespero antes de um
referendo; deixou claro que os planos de Londres para limitar o número de
imigrantes no país – dirigidos sobretudo a polacos e romenos, mas também a
portugueses ou espanhóis – são ilegais pelos tratados da União, e contrários
aos princípios de um mercado livre que é afinal “o que os britânicos sempre
quiseram”; finalmente, ameaçou que no caso de realmente sair da UE, o Reino
Unido passaria a ter “uma influência igual a zero”.
Barroso vai sair, e quis fazê-lo com estrondo: o
Reino Unido ficou em polvorosa com as declarações deste anglófilo de sempre.
Infelizmente para a Europa, este estertor final de lame duck significa demasiado pouco. E pior: vem demasiado tarde.
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