
Aos Verdes, grupo crucial e dividido na sua posição perante Juncker, foi prometida a oposição aos organismos geneticamente modificados e à privatização de serviços públicos, por exemplo. Mas mais uma vez as principais questões receberam uma resposta vaga e evasiva, algo de que todos os grupos, mesmo os democratas-cristãos, se queixaram. Do encontro com o novo grupo de direita populista, pouco interessado em discutir temas de fundo, não rezou a História. Mas o verniz político estalou de uma forma desagradável com o grupo da extrema-esquerda, que já era obviamente adverso a votar no luxemburguês. Juncker, preocupado com o seu telemóvel, primeiro demonstrou não dar a mínima importância ao que dizia o deputado português João Ferreira; em seguida aconselhou-o a ser breve “porque tem cinco vizinhos portugueses”, logo nem precisando de tradução para perceber a língua e “conhecendo bem” a situação do país, revelando ali um lado do político que os luxemburgueses conhecem bem: irascível, rude, paternalista. No seu pequeno país de origem, cheio de humildes vizinhos portugueses, Juncker pode eventualmente dar-se a esse luxo; como presidente da Comissão Europeia, gerindo os delicados equilíbrios políticos gerados por 500 milhões de habitantes do continente mais rico do mundo, não pode.
Juncker parece esquecer-se que a sua aprovação pelo PE decorre principalmente da vontade de respeitar a escolha democrática vinda das eleições europeias – e não de um genuíno entusiasmo pela sua pessoa ou o seu percurso. Ignorando este simples facto político, perdendo a capacidade de escutar e reagir às críticas, Juncker arrisca-se a ter recorrer mais vezes aos seus alegados vizinhos como fonte de ligação ao mundo real. Esperemos que nenhum deles se chame Cristóvão Colombo.
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