Há uma nova música no ar – e vem de um sítio improvável.
Borny é um subúrbio de Metz, uma pequena cidade da Lorena, integrante da Grande
Região tal como o Luxemburgo. Mas não é um subúrbio qualquer: o nome evoca
imediatamente, aos habitantes da cidade, problemas e delinquência. Borny é uma
“zona de ensino especial” já desde 1982, uma “zona urbana sensível” há ainda
mais tempo, e apresenta actualmente uma taxa de desemprego superior a 30%. Daí
até à reputação de uma área perigosa, uma espécie de Bronx de Metz, vai um pequeno
passo.
Quando a Câmara de Metz se reuniu para escolher a
localização de uma nova sala de concertos de última geração, num investimento
de 15 milhões de euros, teve em conta a lei francesa do renovamento urbano que
estipula que os novos equipamentos públicos devem, de preferência, ser
construídos nos bairros em dificuldades e não nas zonas mais chiques. E não
havia bairro em mais dificuldades que Borny; tanto que a reacção dos próprios
habitantes foi “façam a sala em qualquer lado, menos aqui!”
E porque não ali? A vontade política de Metz é a de
procurar a mescla social que acompanha a mistura cultural; o maire afirma que a escolha de Borny
simboliza uma visão da cidade como um todo, em que não deve haver uma dicotomia
centro/subúrbios mas sim um espaço homogéneo por onde os habitantes se
movimentam (e a cidade também inaugurou, no ano passado, um novo sistema de
transportes rápidos chamado Mettis).
A Caixa de Música (Boîte
à Musique – BAM) abriu esta semana com uma avalanche de concertos de música
do nosso tempo (com destaque para Woodkid, o músico que é conhecido por dirigir
vídeos para Taylor Swift, Katy Perry, Lana del Rey e “Happy” de Pharell
Williams). A Câmara apelou a um arquitecto meridional, um francês de origem
italiana nascido na Argélia, para a criação de um edifício marcante, longo,
aberto, com janelas irregulares em forma de estilhaços, iluminadas a cores
diferentes durante a noite. Um edifício fotográfico, especial – o segundo
construído em Metz no espaço de três anos, após o surpreendente Centro
Pompidou, e a cidade, inteligentemente, não tenciona ficar por aqui. Nos nossos
tempos, a capacidade de crescer – tanto em termos populacionais como económicos
– depende muito da capacidade de atracção. E essa joga-se em grande medida na
indústria cultural, geradora de riqueza e emprego.
Na Caixa de Música, muito do emprego gerado
falava aliás português, dado que a empresa de construção – muito elogiada pelo
excelente trabalho num projecto altamente complexo – era a Soludec, de
Differdange. Uma razão suplementar para desejar que a BAM consiga realmente
mudar um bairro problemático, em vez de ser engolida por ele. Há muitas cidades
europeias desejosas de recuperar os seus “quarteirões problemáticos” que vão
estar muito atentas.
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