Um dos problemas da Europa é o de ser governada por
pessoas que não gostam da Europa. Ninguém tem dúvidas sobre onde está a
lealdade da administração americana, por exemplo – ali, a narrativa
nacionalista é construída desde muito cedo. Mas os europeus privilegiam identidades
mais reduzidas e não se veem muitas vezes a si próprios como tal. Mesmo quando
isso acontece, raramente é com o orgulho devido.
Um bom exemplo aconteceu recentemente na Ryder Cup. Esta
competição de golfe é especial por várias razões: é disputada por “selecções”,
e apesar de atrair um enorme interesse a nível global – movimentando milhões em
patrocínios e contratos televisivos –, os golfistas competem pelo prestígio da
equipa e não recebem prémios monetários. Além disso, e não é proeza pequena,
esta é a única competição de qualquer desporto que apresenta uma equipa que
compete sob a belíssima bandeira da UE, estrelas de ouro sobre fundo azul. Ou
seja, os jogadores competem sobretudo pelo orgulho, e até anti-europeus
notórios como o infame Nigel Farage podem ser vistos a torcer pela equipa da
Europa unida.
Parece a perfeita oportunidade para uma grande dose de
boa e velha propaganda europeia, certo? Errado. A competição durou uma semana e
atraiu a Perth, Escócia, milhares de turistas e um batalhão de repórteres;
conscientes do facto, os EUA trouxeram consigo embaixadores e um stand promocional, como se de uma feira
económica se tratasse. A UE também montou um, mas em vez de “vender” a Europa
este limitava-se a pedir aos americanos a assinatura do acordo de livre
comércio connosco. Ninguém estava interessado, naturalmente. Mais uma
oportunidade de conquistar corações perdida, e pior, tudo em nome de um mau
motivo.

De um só golpe, e com o público completamente distraído
com o último filme, o último casamento ou a última guerra, os Estados Unidos
vão finalmente conseguir eliminar todas aquelas irritantes barreiras de
protecção sanitária ou ambiental que os europeus insistem em ter contra os
bifes industriais, os vegetais organicamente modificados ou a produção de gás
natural através da injecção de químicos nos solos. Quaisquer leis que ainda nos
separem do vale tudo serão invalidadas, em nome do “livre comércio”, por
tribunais especiais criados para o efeito e onde os “investidores” (leia-se, as
corporações) terão todos os poderes para processar os Estados soberanos, ou
seja, os cidadãos.
Só que desta vez nem todos os europeus estão a dormir.
Há muitos que, já este sábado dia 11, por todo o continente (também no
Luxemburgo, em Bruxelas ou Lisboa), vão descer à rua da grande cidade para se
manifestar contra este assalto brutal às nossas democracias. Eu serei
certamente um deles.
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