Angela
Merkel, a imperatriz da Europa, está em visita oficial ao Japão e um dos
primeiros eventos da sua agenda foi o de conhecer “Asimo” – o robot humanóide
desenvolvido pela Honda que tem servido de embaixador da tecnologia nipónica.
Em Abril passado, por exemplo, o robot jogou um pouco de futebol com um
divertido Obama, mas a entrevista com Merkel não correu tão bem: a crispação de
parte a parte era evidente, e a chanceler alemã ainda fez menos movimentos que
o robot. Este, quando voltou a receber a bola de futebol, chutou-a com força
para longe em vez de a passar à representante do país campeão do mundo. No
momento das despedidas a tensão tornou-se quase insuportável: Asimo, imóvel,
recusou-se a apertar a mão a Merkel, que acabou por ter de se contentar em
dar-lhe um toque desajeitado no ombro; mal a senhora virou costas, o andróide
desatou a acenar efusivamente, num adeusinho zombeteiro.
Estou
maravilhado com a humanidade de Asimo. A pouca consideração política que ele
demonstra pela chanceler advém certamente da política económica autista que ela
imprimiu, imprime e imprimirá à Europa; uma política que tem como um dos seus
efeitos mais perigosos procurar reduzir o Banco Central Europeu a mero polícia
da “estabilidade de preços”, procurando conter a inflação e restringir o
consumo através da redução de massa monetária em circulação (por exemplo
mantendo as taxas de juro mais altas do que elas deveriam estar, e por
demasiado tempo assim). O resultado é temível: a Europa está perto de cair na
armadilha da deflação. Quedas nos preços dos bens e serviços levam à descida da
produção e do investimento, que por sua vez levam à queda nos salários e na
procura, fechando o círculo com novas quedas dos preços e assim por diante;
enquanto isso, as dívidas – o grande fantasma da economia europeia – tornam-se
cada vez mais difíceis de pagar, porque aumentam em termos reais.
Asimo,
o robot, sabe do que fala. O Japão ainda não saiu completamente das suas duas
“décadas perdidas” depois de ter caído em deflação no início dos anos 90. Nessa
altura, foram vários os factores a contribuir para a crise: política monetária
restritiva; preços do imobiliário em queda depois de uma bolha; bancos
insolventes e pânico em relação à possibilidade de mais bancos estarem insolventes;
deflação importada através de matérias-primas e bens de consumo baratos vindos de
países com baixos salários, como a China; e uma população a envelhecer devido a
taxas de fertilidade historicamente baixas. Sim, tudo isto soa assustadoramente
familiar para um europeu. E já caminhamos a passos largos para a nossa primeira
década perdida.
Tinha
alguma esperança que a visita da chanceler alemã ao Japão servisse para aquela aprender
com erros alheios, de forma a não os repetir; algo essencial na actual conjuntura.
Mas o discurso de Merkel foi virado para o passado, com a intenção de ensinar
ao primeiro-ministro Shinzo Abe a melhor forma de lidar com a efeméride dos 70
anos do final da II Guerra (e da derrota de ambos os países).
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