O passado sábado foi Dia da
Liberdade. Em Portugal passaram 41 anos desde aquela épica madrugada de “E
depois do adeus” e “Grândola Vila Morena”, desde os tanques no Largo do Carmo,
desde aquela imensa alegria de um país finalmente libertado após quase meio
século de fascismo. Foram 41 anos de evolução rápida no meio de alguns
retrocessos como o actual – e é altamente simbólico ler a filha de Salgueiro
Maia, emigrada no Luxemburgo, dizer “o meu pai deve estar a dar voltinhas no
caixão”, como é preocupante ler o pacto de regime entre PS, PSD e CDS para
amordaçar os media do país durante a sua cobertura da campanha, numa reedição
moderna da comissão de censura prévia. Mas apesar dos escolhos no caminho,
aquele dia de Primavera em 1974 foi, e sempre será, a origem de tudo.
A Itália comemora a mesma
data como Dia da Libertação; foi há exactamente 70 anos, no final da II Guerra,
que uma outra comunicação radiofónica anunciou o fim do fascismo e o
renascimento de uma nova Itália. Mussolini seria fuzilado três dias depois.
Este ano, no entanto, uma
outra efeméride histórica ultrapassa em significado e simbolismo aquelas duas,
pois foi a 25 de Abril de 1915 – precisamente há um século atrás – que se deu o
desembarque de Gallipoli, onde dois países tiveram o seu “baptismo de fogo” e
tantos homens encontraram uma morte duríssima e absurda. A Austrália e a Nova
Zelândia tinham acabado de ganhar o direito à autodeterminação, mas ainda
faziam parte de um Império Britânico envolvido numa guerra brutal contra a
Alemanha e os seus aliados com capital na mítica Constantinopla.
Conquistar Constantinopla a
uns otomanos enfraquecidos e desmoralizados não seria difícil, pensava o
exército britânico com a sua costumeira arrogância. Foram feitas incursões
navais para controlar os estreitos (Bósforo e Dardanelos), e ultimados os
planos para uma invasão terrestre, iniciada num desembarque maciço, para o qual
restava escolher os pontos mais adequados; essa escolha recaiu em dois sectores
da quase deserta península de Gallipoli. Um deles foi reservado para o Anzac –
o corpo do exército constituído exclusivamente por soldados voluntários vindos
do outro lado do mundo, na Oceânia.

A invasão arrastou-se por 9
meses, sem qualquer progressão dos Aliados, encurralados, doentes e mortos em
terras de ninguém, arrastados para longe de casa sem compreender porquê ou para
quê. No total, mais de 110 mil mortos e quase 400 mil feridos em vão, vítimas
da incompetência e arrogância das hierarquias militares, habituados então a
enviar jovens homens para a morte enquanto beberricavam o chá.
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