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334 435 pessoas visitaram o museu do Louvre no ano passado, algo como 30
mil aficionados de Arte por cada dia de abertura. Estes números tornam o museu
parisiense inaugurado na ressaca da Revolução Francesa no mais visitado do
mundo, e são impressionantes, sobretudo se pensarmos que um quadro de tamanho
médio, por exemplo, só pode ser razoavelmente contemplado por – no máximo – uma
dezena de pessoas de cada vez (e idealmente bem menos do que isso). Não admira
que procurar vislumbrar a Mona Lisa por entre uma miríade de cabeças e máquinas
fotográficas se torne, quase sempre, numa desilusão.
Talvez
seja melhor assim, até porque o quadro de Leonardo não é o mais interessante
que o enorme museu tem para oferecer. Mas a “experiência” vivida pelo turista não
pode ser sistematicamente estragada pelas multidões; um perigo para o qual os
grandes museus do mundo – e quase todos eles ficam na Europa, algo que nos deve
encher de orgulho – estão neste momento a acordar. “O Louvre foi concebido para
receber 5 milhões de pessoas por ano”, afirmou o seu presidente, J-L Martinez,
“e há três anos consecutivos que estamos bem acima dos 9 milhões”. Igual para o
museu Britânico (quase 7 milhões), museu do Vaticano (6 milhões) ou muitas
outras destas veneráveis instituições, pensadas para um tempo diferente com um
público diferente.
O
público dos grandes museus está a crescer essencialmente por dois grandes
fenómenos: o triunfo das companhias aéreas low-cost – democratizando as viagens
e tornando mais fáceis as visitas de fim-de-semana a uma grande cidade – e a
explosão de mercados emergentes com novos viajantes cheios de dinheiro para
gastar, com a China, que ainda há poucos anos praticamente não enviava turistas
para o Ocidente e hoje já ameaça tornar-se o mais numeroso contingente
estrangeiro em Versailles, como melhor exemplo.
Os
problemas são semelhantes, as soluções talvez venham também a sê-lo. O MoMA, em
Nova York, vai demolir o prédio vizinho (um plano altamente controverso); o
palácio de Versalhes continua a agigantar-se, com mais 2700 m2 de jardins. Quando
expandir não é uma opção, como no Louvre, a solução vai passar por repensar os
acessos, as bilheteiras, os bengaleiros; a National Gallery ou o Guggenheim de
Bilbao vão melhorar os seus restaurantes. E depois, claro, há sempre a hipótese
de abrir durante mais tempo – nos EUA é possível visitar os grandes museus em
qualquer dia da semana, o ministério da Cultura francês quer obrigar o Louvre e
o museu d’Orsay a fazer o mesmo.
Este último quer “distribuir melhor as pessoas
dentro do museu” e acaba de eliminar a sua proibição a fotografias – os mais
cínicos comentam tudo serve para acelerar processos já que tirar uma “selfie”
em frente a cada quadro demora menos tempo que olhar para ele procurando
compreendê-lo…
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