terça-feira, 5 de maio de 2015

Mais uma Mona Lisa, por favor


9 334 435 pessoas visitaram o museu do Louvre no ano passado, algo como 30 mil aficionados de Arte por cada dia de abertura. Estes números tornam o museu parisiense inaugurado na ressaca da Revolução Francesa no mais visitado do mundo, e são impressionantes, sobretudo se pensarmos que um quadro de tamanho médio, por exemplo, só pode ser razoavelmente contemplado por – no máximo – uma dezena de pessoas de cada vez (e idealmente bem menos do que isso). Não admira que procurar vislumbrar a Mona Lisa por entre uma miríade de cabeças e máquinas fotográficas se torne, quase sempre, numa desilusão.

Talvez seja melhor assim, até porque o quadro de Leonardo não é o mais interessante que o enorme museu tem para oferecer. Mas a “experiência” vivida pelo turista não pode ser sistematicamente estragada pelas multidões; um perigo para o qual os grandes museus do mundo – e quase todos eles ficam na Europa, algo que nos deve encher de orgulho – estão neste momento a acordar. “O Louvre foi concebido para receber 5 milhões de pessoas por ano”, afirmou o seu presidente, J-L Martinez, “e há três anos consecutivos que estamos bem acima dos 9 milhões”. Igual para o museu Britânico (quase 7 milhões), museu do Vaticano (6 milhões) ou muitas outras destas veneráveis instituições, pensadas para um tempo diferente com um público diferente.

O público dos grandes museus está a crescer essencialmente por dois grandes fenómenos: o triunfo das companhias aéreas low-cost – democratizando as viagens e tornando mais fáceis as visitas de fim-de-semana a uma grande cidade – e a explosão de mercados emergentes com novos viajantes cheios de dinheiro para gastar, com a China, que ainda há poucos anos praticamente não enviava turistas para o Ocidente e hoje já ameaça tornar-se o mais numeroso contingente estrangeiro em Versailles, como melhor exemplo.

Os problemas são semelhantes, as soluções talvez venham também a sê-lo. O MoMA, em Nova York, vai demolir o prédio vizinho (um plano altamente controverso); o palácio de Versalhes continua a agigantar-se, com mais 2700 m2 de jardins. Quando expandir não é uma opção, como no Louvre, a solução vai passar por repensar os acessos, as bilheteiras, os bengaleiros; a National Gallery ou o Guggenheim de Bilbao vão melhorar os seus restaurantes. E depois, claro, há sempre a hipótese de abrir durante mais tempo – nos EUA é possível visitar os grandes museus em qualquer dia da semana, o ministério da Cultura francês quer obrigar o Louvre e o museu d’Orsay a fazer o mesmo. 

Este último quer “distribuir melhor as pessoas dentro do museu” e acaba de eliminar a sua proibição a fotografias – os mais cínicos comentam tudo serve para acelerar processos já que tirar uma “selfie” em frente a cada quadro demora menos tempo que olhar para ele procurando compreendê-lo…

Não deixa de ser irónico que museus, cuja missão é precisamente a de mostrar as suas colecções difundindo a Cultura pelo camada mais alargada possível da sociedade, se queixem de receber “demasiados” visitantes. Mas há limites físicos que não há forma de ultrapassar. A não ser que mostrar cópias da Mona Lisa espalhadas por diferentes museus do mundo fosse uma solução aceitável para o público…

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