O leitor conhece aquela
anedota sobre o saco plástico? Claro que não, porque não há forma de fazer
humor sobre o tema: sacos plásticos são uma autêntica praga para o nosso
depauperado planeta. Não só o plástico é um material difícil e nocivo de
produzir (o montante de petróleo necessário para um simples saco plástico seria
suficiente para mover um carro por 11 metros), como também está cheio de
substâncias químicas pouco testadas e ligadas a doenças graves. Pior que tudo, não
se desintegra nem se degrada, pelo que o saco das compras que usámos por alguns
minutos hoje vai andar por aí, em boa forma, por muitos séculos – a maior parte
deles passados no mar a sufocar peixes, gaivotas e polvos.
O mundo produz anualmente 1
milhão de milhões de sacos plásticos por ano. É um 1, seguido de doze zeros, a
cada ano somando aos resíduos de todos os outros anos. A este ritmo, em breve
não existirá espaço no planeta para humanos, animais e sacos plásticos – será
preciso escolher.
E a Europa escolheu: o Parlamento
Europeu acaba de aprovar a proibição dos sacos de plástico “leves” (ou seja, os
mais finos e que tendem a não ser reutilizados). A intenção é a de reduzir
drasticamente a utilização daqueles exemplares mais desagradáveis e
barulhentos, seguindo as práticas dos países mais avançados nessa matéria – na
Dinamarca e na Finlândia, cada habitante usa apenas 4 destes saquinhos por ano…
enquanto que os portugueses, no outro extremo, usam nada mais nada menos que
466 por pessoa, em média! Mesmo sabendo que até há pouquíssimo tempo cada
supermercado parecia ter prazer em oferecer o maior número de sacos possível –
e não era raro ver clientes a trazer cada peça de fruta num saco diferente – o
valor não deixa de ser assustador. Era necessário mudar, e a proibição só peca
por tardia.
Mas claro, nem o que terá
sempre de ser considerado algo de positivo – o desaparecimento, a médio prazo,
de algo terrível como o plástico ubíquo – deixa de envolver grandes consequências
económicas. O caso vem sublinhar a dificuldade de tomar decisões políticas nas
nossas sociedades nominalmente democráticas, porque há sempre interesses
contrastantes (até num caso linear como este) e muitas vezes, ou quase sempre,
são os poderes mais obscuros quem tem maior capacidade de influenciar a tomada
de decisão. Neste caso, os sacos plásticos serão proibidos. Mas nem todos. 
O texto da lei foi sendo
alterado ao longo do tempo, e uma grande empresa alemã produtora,
principalmente, dos sacos mais grossos conseguiu, através dos bons serviços de uma
firma de advogados lobbyistas, que os políticos europeus não incluíssem estes no
alcance da directiva, e isto apesar de obviamente os sacos pesados levarem mais
plástico e serem assim ainda mais poluentes que os leves. Em compensação, os
sacos plásticos biodegradáveis foram mesmo
incluídos na proibição (sob o argumento que eles se desfazem em pedaços que
continuam a ser nocivos). Por tremenda coincidência, ou talvez não, os sacos
biodegradáveis são patente da maior concorrente daquela empresa alemã (uma
companhia italiana), que agora ficará sem produtos para vender. 










