A segunda delas aconteceu já no sábado e é quase burlesca: após ter negociado vários acordos de associação que equivalem a ser um quase-membro da UE, dando-lhe acesso a um mercado continental rico e vasto, para além de liberdade de circulação para os seus nacionais, a Suíça resolveu brincar com o fogo e referendar aquilo que, na prática, equivale ao fecho das suas fronteiras (a não ser, claro, no caso de turistas europeus quererem
ir lá deixar uma boa parte do seu dinheiro a esquiar ou comprar relógios – isso continuará encorajado). A mensagem suíça é simples: queremos (continuar a) explorar a Europa, mas não queremos que venham mais europeus (e nomeadamente portugueses) servir às nossas mesas. Preferimos guardar o dinheiro para nós.

Ajuda saber que Nuland é casada com Robert Kagan, talvez o maior ideólogo neoconservador – o ideólogo da “América por cima de todos” e da invasão desastrosa ao Iraque. E logo a formidável máquina de propaganda americana entrou imediatamente em campo para limitar os danos da bomba expletiva. Nestes dias que se seguiram, quase não foi possível ler outra coisa senão “analistas” – sempre americanos ou britânicos – que passam uns paninhos quentes, argumentam “ah não foi nada de especial, só um desabafo de frustração” e chegam mesmo ao desplante de dizer “muitos europeus até concordam, já que também não querem uma UE imóvel”.
Sobre a nossa justa indignação, nada. É verdade que nem assim os actuais líderes europeus foram capazes de um assomo de dignidade e respeito; a maior visada, Catherine Ashton, a inexistente líder da diplomacia europeia, continua ainda hoje a assobiar para o ar. Apenas quem a foi desencantar, a sra. Merkel, foi capaz de dizer um tímido “é inaceitável”. Patético, na melhor das hipóteses. E no entanto...
As verdadeiras razões para esta atitude dos EUA encontram-se no valor da Ucrânia como país – altíssimo a qualquer nível, seja económico, cultural, geopolítico ou outros. E no facto que, mesmo correndo como um outsider aparentemente distraído, a Europa talvez ainda seja capaz – talvez – de atrair o grande país eslavo para o nosso lado. Uma Ucrânia europeia seria uma espinha cravada nas mal-educadas gargantas russa e americana – e nas frias praças de Kiev o que se grita hoje é “queremos a Europa!”.
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