terça-feira, 13 de maio de 2014

Ventos de mudança


No seu livro “O mundo em 2030” (escrito há seis anos, em 2007), o futurologista Ray Hammond pinta um quadro preocupante do planeta em que vamos viver num futuro próximo, uma espécie de nuvem negra que é ainda assim rodeada por uma aura prateada: desde logo, é suposto que o tanto o planeta como a Humanidade continuem a existir em 2030. Já não é mau.
 
Começou 2014 e estamos um passo mais perto do futuro. Mas há algo de diferente no ar. Antes, a simples menção da palavra “futuro” evocava imagens de discos voadores, cidades com elevadores silenciosos e teletransporte instantâneo; hoje é mais provável que provoque uma acrescida ansiedade sobre o desconhecido, uma angústia sobre, como dizia Harry Dean Stanton em Paris, Texas, “not knowing where the next check will come from” – não se saber de onde virão os próximos rendimentos. Mas há mais do que isso: uma angústia indefinida sobre o rumo que as nossas sociedades estão a tomar. Para a maioria dos europeus e dos americanos, a expectativa é que as gerações futuras vivam pior que a sua própria – e esta é uma profecia que já se está a rapidamente tornar realidade.

Atravessamos tempos de ruptura e rápida mudança; tudo parece transitório e incerto, e a velha ordem está enterrada, mas não sabemos o que surgirá no seu lugar – apenas sabemos que a Natureza tem horror ao vazio e logo, que uma nova hierarquia de valores mundiais prevalecerá. Será a das ditaduras totalitárias, a das “democracias musculadas” como na Rússia ou Turquia, ou a das democracias aparentes – compostas de falsas escolhas e permanente vigiadas – em que vivemos todos, no Ocidente e na maior parte do mundo? Ou nenhuma destas e alguma vez reencontraremos uma réstia de liberdade? 

Não sabemos, e é por isso que ninguém arrisca prever o que será 2014. Um estranho paralelismo com o ano de 1914: há precisamente cem anos, viviam-se tempos de uma estranha e relativa calma, a calma antes da tempestade que tudo mudou e tudo levou arrastado. Nos anos que se seguiram a 1914, com a grande guerra, a Europa perdeu, quiçá definitivamente, o lugar que detinha como centro do mundo – a luta que agora travamos, e que também se vai decidir nos próximos anos, é pela nossa relevância a nível mundial. E sobre esta questão central, qualquer optimismo parece exagerado: 2014 é o ano em que Bruxelas vai estar concentrada na sua dança das cadeiras (eleições para um Parlamento Europeu que estará prenhe de eurocépticos, mais a substituição de Barroso à frente da Comissão e de Van Rompuy à frente do Conselho), enquanto mais do nunca a Europa será conduzida, de forma tão relutante quão egoísta, a partir de Berlim. E nem a prometida libertação de Portugal das grilhetas da troika, a acontecer em Junho, é motivo de ardente antecipação: a situação macroeconómica não melhorou, logo o país terá de continuar ligado à máquina. A qual máquina? Talvez só mesmo a sra. Merkel, enquanto repousa a sua bacia partida a esquiar, possa responder. 

“O mundo em 2030” prevê que nesse ano os efeitos das alterações climáticas sejam já tremendos, com destaque para a força dos vendavais: ventos ciclónicos que provocarão estragos sempre crescentes. Ventos de mudança constante.

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