Uma imagem vale mil palavras. A imagem dada por Dani Alves, um jogador de futebol, no passado domingo é bem capaz de ter feito mil vezes mais pela causa da luta anti-racismo do que mil artigos, argumentos ou provas científicas.
No domingo,
a equipa de Dani Alves, o Barcelona FC, foi jogar a Villareal para a Liga
espanhola, no mesmo país onde há alguns anos um estádio inteiro, em Madrid,
insultou os jogadores negros da selecção inglesa, o mesmo país onde Samuel
Eto’o ameaçou abandonar um jogo onde era constantemente insultado. Dani Alves é
brasileiro, e como tal, um típico produto da maravilhosa miscigenação de todos
os tons de pele iniciada pelos portugueses na antiga colónia. Ou seja, é o que
se designa por “mulato” – uma das palavras universais criadas pela língua
portuguesa, mas que se tem tornado politicamente incorrecta noutras línguas.
Alguém
na bancada não achava que um mestiço pudesse estar ali a proporcionar-lhe um
espectáculo e decidiu insultá-lo de macaco. Aproveitando a proximidade do
jogador para marcar um canto, atirou-lhe uma banana. O jogador não hesitou: em
poucos segundos, apanhou a banana e… comeu-a. Como que engoliu o racismo. Em
seguida, com toda a naturalidade do mundo, marcou o canto e o jogo continuou. A
sua equipa, que perdia, acabou por dar a volta e ganhar o jogo. Foi tudo tão
perfeito que encenado não sairia melhor.

Não se
pense que esta vergonha é um exclusivo de Espanha ou do futebol: um dia antes,
veio a público uma discussão entre o dono dos LA Clippers – uma das melhores
equipas de basquetebol da actualidade – e a sua namorada, 50 anos mais jovem e
ironicamente com origens mexicanas e africanas. Donald Sterling diz na
gravação: “tens mesmo de tornar públicos os teus encontros com esses negros, e
trazê-los para os meus jogos de basquetebol?” Uma milionária equipa de Los
Angeles, uma das comunidades mais diversas do mundo, é detida por um velho
racista – e isto num desporto como o basquetebol em que a maior parte dos
melhores jogadores, bem como treinadores, árbitros, adeptos, anunciantes, são
de origem africana. O escândalo está a ser de tal ordem que o treinador dos
Clippers não vai continuar, os jogadores treinam tapando o símbolo do clube, e
a NBA considera a hipótese de simplesmente confiscar a equipa (uma empresa que
vale milhões de dólares). Até Obama, em visita de Estado à Ásia, comentou o
caso chamando a Sterling “um tolo ignorante”.
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