Os
tempos não andam fáceis. As dificuldades materiais são um grande pretexto para
o reaparecimento dos fantasmas de qualquer sociedade. Quando é suposto vivermos
em tempos “pós-ideológicos”, em que ninguém veste a camisola de um partido por
convicção mas apenas por eventuais benefícios, em que não há totalitarismos, não
faltam pelo contrário exemplos do crescimento de muitos outros “ismos” que vão
corroendo a forma como nos relacionamos enquanto humanos. O egoísmo, o
isolacionismo, o segregacionismo campeiam e parecem perseguir-nos.
… ou,
pelo contrário, surgirá essa sensação precisamente pelo facto de termos
evoluído como sociedade, existindo hoje um escrutínio muito mais apertado e sendo
agora considerados como inaceitáveis comportamentos que há alguns anos
passariam quase despercebidos? Há duas semanas, a pretexto de uma banana,
escrevi aqui sobre o racismo no desporto e afirmei que a feia batalha para o
erradicar está muito longe de estar ganha (há dois dias foi atirada uma faca
para perto de dois jogadores negros do AC Milão). Desta vez, um outro
comportamento troglodita irrompeu à superfície através do futebol – o sexismo,
ou para ser mais preciso, a misoginia.

A
discriminação por género é um mal profundo na sociedade europeia – com os
Estados-membros de Sul e de Leste a ficarem particularmente mal na fotografia. Os
números são avassaladores: as mulheres ganham em média menos 8 mil euros por
ano que os homens. Menos de 3% dos presidentes de companhias são mulheres, mas
três quartos dos trabalhadores em part-time
são mulheres… e no entanto, estas já constituem 60% daqueles que hoje detêm um
curso superior.
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