Já sabemos que a
História se repete sempre, e da segunda vez como farsa: vinte anos depois, não
seria difícil estabelecer o paralelismo com a carreira de François Hollande,
eleito Presidente em França com a missão – e mais do que isso, a promessa – de fazer
virar a agulha do “pensamento único económico” vigente na Europa, repleto de
opções que contribuíram para esta crise e para o seu arrastamento sem fim à
vista, seis anos após o seu início. Seis longos anos, em comparação com os
menos de quatro que custou à França (por exemplo) regressar ao crescimento
económico após a Grande Depressão dos anos 30.

Hollande teve um
assomo. Convocou todos para uma grande conferência de imprensa, não para falar
sobre a sua companheira internada num hospital, mas para nos avisar que vai
atraiçoar também os seus princípios sociológicos e a sua base eleitoral aplicando
em força as mesmíssimas políticas austeritárias que o seu rival Sarkozy
aplicaria, e que a sua orientadora alemã, a chanceler Merkel, lhe dita ao
ouvido: as empresas (não os indivíduos) vão obter uma redução de impostos que
será paga com “cortes na despesa do Estado” (não especificados) até porque “é absolutamente
necessário conter o défice” e “agir na economia do lado da oferta, porque a
oferta vai criar a procura”. Isto numa altura em já são evidências que a) a
austeridade está a destruir as economias muito para além do razoável, sem as
reformar e b) o que está a travar o crescimento económico da França, como aliás
o admitem os seus empresários com imensa capacidade instalada e não utilizada,
é a debilidade da procura. Sem dinheiro, ninguém compra. E se mais provas
fossem necessárias, basta olhar para uma inflação que ameaça tornar-se em
deflação, de tão baixa.
Hollande, o
infiel, anda a copiar o presidente errado: quem lidou com a economia do lado da
oferta, desregulando e criando as bases para o colapso do sistema que vivemos
hoje, não foi Clinton: foi Reagan. E se é para aplicar a velha e errada receita,
os votantes preferirão sempre o original neoliberal à pálida cópia cor-de-rosa
(juro que não é uma piada ao tipo de revistas que Hollande faz vender).
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