terça-feira, 8 de março de 2016

Burros de Tróia


E ao terceiro dia, a polícia francesa viu o cérebro do ataque, Abdelhamid Abaaoud, a dar entrada num prédio do subúrbio parisiense de Saint-Denis. Abaaoud estava acompanhado por uma suposta prima, Hasta Boulahcen – uma eterna adolescente cujas ocupações eram vender droga e glorificar o Daesh nas redes sociais; dentro do apartamento já se encontravam outros cúmplices.

Às 4:20 da madrugada seguinte, ou seja há exactamente uma semana, a polícia atacou. Seguiram-se seis horas de cerco implacável, em que os terroristas usaram mais uma vez uma brutalidade desumana apoiada em munições pesadas, granadas e explosivos. Saldo final, quatro mortos – incluindo os personagens já referidos e o cão-polícia Diesel –, mais cinco detidos.

O momento de tragicomédia já tinha acontecido na fase inicial do cerco, ainda estava escuro: as câmaras de televisão entrevistam um jovem árabe que se identifica como o proprietário do apartamento onde se refugiam os terroristas. Com a melhor cara de inocente que conseguiu mostrar, Jawad B. encolhe os ombros: “ah, eu não sabia quem eram, pediram-me para alojar duas pessoas por três dias e eu claro, prestei o serviço. Não sei de onde vêm, quem são… não sei nada. Se soubesse acha que os teria alojado?”

A falsa ingenuidade de Jawad não enganou ninguém, e no dia seguinte a web já estava repleta de piadas com a sua foto e legendas imaginárias (exemplo: “eles perguntaram-me se sabia fazer cocktails molotov, eu respondi que não percebia nada disso, não sou barman”). Em seguida, descobrimos que não somente Jawad já foi condenado a 8 anos de prisão pelo assassínio do seu melhor amigo após uma discussão sobre um telemóvel, como também ele não é o proprietário legal do destruído apartamento. E percebemos então que estamos a assistir à ponta do iceberg de mais um monumental embuste.

De facto, todo o caso exemplifica bem a magnitude do adversário que as democracias ocidentais, as sociedades mais avançadas do planeta, têm pela frente. Não se trata só de nos defendermos de um bando de bárbaros fanáticos com armas automáticas. Esses fanáticos têm  a) bolsos fundos, dado que são financiados por amigos poderosos em outros Estados árabes (com dinheiro que por sua vez provém dos nossos gastos em petróleo, e possivelmente de negócios estranhos entre capitais qataris e empresas luxemburguesas, por exemplo…); e, o que é talvez ainda mais importante,  b) uma extensa e generalizada rede de silêncios, conivências e ajudas por toda a Europa, sobretudo em zonas de alta concentração de comunidades muçulmanas. É por isso que o agora infame bairro de Molenbeek, em Bruxelas, onde não há qualquer multiculturalismo (ou cultura) e a agressão e intolerância são comuns, é considerado “o esconderijo ideal”; é por isso que “alguém” (quem?) pede a Jawal que aloje duas pessoas por três dias e este “faz o serviço” sem fazer mais perguntas; é por isso que criminosos nunca são apanhados, e atentados são planeados durante meses – por vezes em plena mesquita – sem que apareça um único informador, sem que ninguém se insurja. Cúmplices, por colaboracionismo.

E depois do mal feito, vêm as lágrimas. Mas há muitas que soam a falso. Já ouvimos o costumeiro “ai mas ele era tão bonzinho, nunca pensei!”. Já ouvimos o irmão de um terrorista que continua a monte a pedir-lhe que se entregue à polícia “pela honra da nossa família” – ou seja não pelo sangue derramado, não pelas vidas promissoras cortadas a meio, mas por si próprios; já ouvimos muitos queixando-se que o Daesh está a “destruir a reputação dos muçulmanos” – mas são muito poucos os que condenam sem reservas a destruição de famílias, ou o ataque a esta nossa louca ideia de sociedade liberal e aberta. Na guerra que estamos, desgraçada e involuntariamente, a travar, aqueles são os nossos cavalos de Tróia. Ou talvez sejam só burros.

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