E ao terceiro dia, a
polícia francesa viu o cérebro do ataque, Abdelhamid Abaaoud, a dar entrada num
prédio do subúrbio parisiense de Saint-Denis. Abaaoud estava acompanhado por
uma suposta prima, Hasta Boulahcen – uma eterna adolescente cujas ocupações
eram vender droga e glorificar o Daesh nas redes sociais; dentro do apartamento
já se encontravam outros cúmplices.
Às 4:20 da madrugada
seguinte, ou seja há exactamente uma semana, a polícia atacou. Seguiram-se seis
horas de cerco implacável, em que os terroristas usaram mais uma vez uma
brutalidade desumana apoiada em munições pesadas, granadas e explosivos. Saldo
final, quatro mortos – incluindo os personagens já referidos e o cão-polícia
Diesel –, mais cinco detidos.
O momento de
tragicomédia já tinha acontecido na fase inicial do cerco, ainda estava escuro:
as câmaras de televisão entrevistam um jovem árabe que se identifica como o
proprietário do apartamento onde se refugiam os terroristas. Com a melhor cara
de inocente que conseguiu mostrar, Jawad B. encolhe os ombros: “ah, eu não
sabia quem eram, pediram-me para alojar duas pessoas por três dias e eu claro,
prestei o serviço. Não sei de onde vêm, quem são… não sei nada. Se soubesse
acha que os teria alojado?”

De facto, todo o
caso exemplifica bem a magnitude do adversário que as democracias ocidentais,
as sociedades mais avançadas do planeta, têm pela frente. Não se trata só de
nos defendermos de um bando de bárbaros fanáticos com armas automáticas. Esses
fanáticos têm a) bolsos fundos, dado que
são financiados por amigos poderosos em outros Estados árabes (com dinheiro que
por sua vez provém dos nossos gastos em petróleo, e possivelmente de negócios
estranhos entre capitais qataris e empresas luxemburguesas, por exemplo…); e, o
que é talvez ainda mais importante, b)
uma extensa e generalizada rede de silêncios, conivências e ajudas por toda a
Europa, sobretudo em zonas de alta concentração de comunidades muçulmanas. É
por isso que o agora infame bairro de Molenbeek, em Bruxelas, onde não há
qualquer multiculturalismo (ou cultura) e a agressão e intolerância são comuns,
é considerado “o esconderijo ideal”; é por isso que “alguém” (quem?) pede a Jawal
que aloje duas pessoas por três dias e este “faz o serviço” sem fazer mais
perguntas; é por isso que criminosos nunca são apanhados, e atentados são
planeados durante meses – por vezes em plena mesquita – sem que apareça um
único informador, sem que ninguém se insurja. Cúmplices, por colaboracionismo.
E depois do mal
feito, vêm as lágrimas. Mas há muitas que soam a falso. Já ouvimos o costumeiro
“ai mas ele era tão bonzinho, nunca pensei!”. Já ouvimos o irmão de um
terrorista que continua a monte a pedir-lhe que se entregue à polícia “pela
honra da nossa família” – ou seja não pelo sangue derramado, não pelas vidas
promissoras cortadas a meio, mas por si próprios; já ouvimos muitos
queixando-se que o Daesh está a “destruir a reputação dos muçulmanos” – mas são
muito poucos os que condenam sem reservas a destruição de famílias, ou o ataque
a esta nossa louca ideia de sociedade liberal e aberta. Na guerra que estamos,
desgraçada e involuntariamente, a travar, aqueles são os nossos cavalos de
Tróia. Ou talvez sejam só burros.
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