Talvez não haja
nenhum anúncio televisivo mais inadvertidamente irónico que o da Volkswagen em
2011. A empresa alemã pagou então uma enorme soma de dinheiro pelos direitos de
utilização das personagens de “Guerra das Estrelas”, e nomeadamente de Darth
Vader. Na publicidade, uma criança disfarçada com a máscara do sinistro
personagem descobre “a Força” que emana do (então) novo modelo Passat diesel,
cuja grelha frontal tem oh-tantas-semelhanças visuais com o vilão mais
conhecido da História do cinema.

O escândalo
Volkswagen revelou tantos podres que ameaçou, por momentos, pôr em risco a
própria sobrevivência da empresa; também questionou a racionalidade de aplicar
tecnologia tão poluente em pequenos carros de passageiros. Mas os interesses em
jogo são de tal ordem, a quantidade de dinheiro que poderia deixar de fluir é de
tal forma infinita, que, tal como no melhor filme da saga operática-espacial,
também aqui O Império Contra-Ataca. Terminou o período (de meses) em que a
reacção da Volkswagen, apanhada em flagrante, foi impreparada, tonta e cómica,
cheia de contradições, mentiras e desculpas balbuciadas. Na última semana, o
grupo alemão explicou-se numa mega-conferência de imprensa onde a ideia-chave
foi minimizar sistematicamente os problemas, atirando-os ao mesmo tempo para as
costas de “alguns indivíduos e unidades isoladas dentro da empresa”. Em seguida
vieram as tentativas insistentes de virar as nossas cabeças (e pulmões) de
consumidores do presente, apontando-os para um futuro mirífico. Um futuro em
que os motores diesel começam a ser reparados na Europa (mas não nos Estados
Unidos, cujos padrões ambientais mais exigentes são difíceis de atingir sem
batota). Um futuro em que a cultura da empresa vai supostamente melhorar,
tolerando o erro, gastando menos tempo em viagens e reuniões e mais em
efectivamente projectar e construir melhores carros.
Essas são as
palavras musicais proferidas para o público. Em privado, dois dias depois, o
império automóvel alemão contratou um aliado poderoso: Kenneth Feinberg, um
super-advogado que se especializou em processos envolvendo compensações em
massa. Foi Feinberg que lidou com os milhares de processos por compensações
devidas depois dos atentados de 11 de Setembro, do derrame da plataforma BP no
Golfo do México, e da ignição de carros General Motors cujo funcionamento
defeituoso acaba de custar 550 milhões de euros à empresa - mas não sem antes
provocar 124 mortos e 275 feridos em acidentes arrepiantes. O facto de a
Volkswagen, para se tentar proteger, ter de recorrer ao homem com experiência
em gerir ataques terroristas e desastres ambientais diz bem sobre a dimensão da
catástrofe.
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