A
esta hora, o leitor só pode estar a pensar em férias. Uff, e como são merecidas
as férias deste ano. O mundo anda um lugar perigoso, e viver tem-se tornado um
verdadeiro percurso do combatente; entre o volume de trabalho sempre crescente,
o poder de compra decrescente, as catástrofes naturais e as crises que se
multiplicam, está mesmo na hora de desligar do mundo por uns dias em favor de
umas areias douradas e o proverbial céu despejado de nuvens. Mas…
Há
neste momento cinco tempestades externas que se abatem sobre a Europa, e os
nossos líderes políticos revelam-se perfeitamente incapazes de solucionar uma
única. Obviamente, existe a Grécia; tragicamente, há uma crise migratória
(sobretudo) no Mediterrâneo; a Rússia é um parceiro imprevisível e com desejos
expansionistas; o ISIS, ou “Estado Islâmico”, ameaça-nos de longe; e o crash bolsista na China levanta um
enorme ponto de interrogação sobre a economia mundial dos próximos tempos.
Isto
representa uma lista de tarefas de respeito, mas ao invés de atacar estes
problemas, os políticos europeus preferiram dar mais um empurrão ao Tratado
Transatlântico, absolutamente indiferentes às preocupações de muitos cidadãos. O
auge da tensão na crise grega, com o primeiro-ministro Tsipras a passar por
Estrasburgo e o belga Guy Verhofstadt a gritar-lhe alto e bom som para YouTube
ver, proporcionou a oportunidade perfeita para aprovar tudo por baixo da mesa,
sem que ninguém reparasse. E foi assim que, após dois milhões e meio de
europeus terem assinado uma petição que pedia explicitamente o bloqueio do
acordo de livre comércio com os Estados Unidos, e após um longo processo de
despertar de consciências individuais para os perigos que se escondem num
documento que vai afectar irremediavelmente toda a nossa forma de vida… o texto
final que contém a posição europeia nas negociações ignora quase todas essas
preocupações legítimas.

Cereja
no topo do bolo, e mesmo após os enormes esforços dos partidos na parte
esquerda do hemiciclo para pelo menos retirar do acordo os ISDS (tribunais
especiais que dão poder supremo às multinacionais, por exemplo a uma tabaqueira
que queira processar um Estado que adopte políticas antitabagistas, como já
aconteceu), a maioria de direita acabou por até isso aprovar (apenas
alterando-lhes o nome). A posição de negociação europeia no TTIP já
significaria o fim dos restos de democracia em que hoje vivemos; o resultado
final será certamente pior. O pouco poder que ainda não estava nas mãos das corporações
lá chegará finalmente, e isto em nome de um acordo que, segundo os seus próprios
defensores, não trará nenhuns efeitos ao crescimento económico.
Era
a nuvem negra que faltava. Boas férias.
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