Uma
tarde quente de final de verão no Mediterrâneo. Na ilha croata de Brijuni,
local paradisíaco onde o ditador jugoslavo Tito tinha a sua residência de
férias bem vigiada por submarinos e que agora, finalmente aberta ao público, é
um parque nacional coberto por pinheiros-bravos e mata mediterrânica, há um
casamento em preparação. Os convivas, em fatos e vestidos da melhor costura,
chegam de barco e aglomeram-se na praça em frente ao mar turquesa. Um solitário
fotógrafo procura encontrar o melhor ângulo de registo do evento. Observo a
cena até que esta é, repentinamente, perturbada por um estranho ruído vindo de
cima, um silvo de ventoinha produzido por um OVNI – um pequeno objecto de forma
circular. Um drone.
Não
era um drone militar – não estava naquele casamento para matar selectivamente,
mas sim para tirar fotos indiscriminadamente. A presença do drone tinha sido
pedida pelos noivos, o casamento não era um momento de silêncio e introspecção
e o único perigo para a privacidade vinha do ângulo vertical das fotografias
combinado com os decotes ousados nos vestidos de uma boda de verão. E era uma
tecnologia já relativamente antiga, em que o drone tem pouca autonomia, é
telecomandado através de uma pequena caixa com interruptores, e exige assim um
operador a tempo inteiro.
Mas
a geração seguinte de drones tem potencial para alterar completamente o nosso
lazer, e muito mais. Estes novos aparelhos só precisam de ser lançados ao ar;
depois seguem-nos para todo o lado, como um paparazzo pessoal – tanto que, em
vez de um nome relacionado com animais de estimação, são apelidados de “selfie
drones”.

A
tecnologia já chegou a este ponto. O mais recente, e mais simples, modelo é o Fotokite
Phi, que se controla com movimentos da mão, como um vulgar papagaio de papel. O
Nixie, por seu lado, pode ser usado no pulso até ser atirado ao ar para uma
sequência de vídeo de alta qualidade. O Lily é tão sofisticado que até é à
prova de água – mesmo após um mergulho numa barragem, por exemplo, o drone
voltará a soerguer-se, impante, qual mistura de fénix com Exterminador
Implacável.
É
fácil ficar impressionado com a qualidade das fotos e de vídeo que é possível
obter com estes aparelhos, e com as possibilidades que se abrem na sua
utilização – registar uma corrida, uma escalada, uma tarde de surf, etc. etc… E
no entanto, os lados perniciosos dos selfie drones são enormes. No futuro pode
ser virtualmente impossível estar ao ar livre, ou de visita a um monumento ou
museu, ou no seu próprio quintal, sem termos a certeza de não estarmos a ser
filmados a partir do céu. Imagine simplesmente aquele belo pôr-do-sol estragado
por meia dúzia destes mosquitos, ou alguém que os utiliza para filmar crianças
na praia. Assustador? Isto ainda antes de pensar que um aparelho destes pode
ficar sem bateria… e cair, como se o céu nos desabasse na cabeça.
Sem comentários:
Enviar um comentário