Ontem foi Dia
Internacional da Mulher. No mundo ocidental, o 8 de Março tem vindo a ganhar
progressiva e saudável importância ao longo dos anos (curiosamente, na Europa
de Leste a data está muito conotada com os antigos regimes comunistas e como
tal é vista com desconfiança por parte da população). O dia serve diferentes
propósitos, mas sobretudo permite parar para pensar e avaliar em que ponto
estamos nisso da igualdade de género.
E o quadro continua
negro.
É inegável que
muitos progressos foram feitos, sobretudo nas últimas décadas (também mau
seria…). Já não estamos na Antiguidade Clássica de Lisístrata, e muito nos
separa das sufragistas que lutaram, por vezes com meios violentos, pelo direito
de voto. O papel essencial das mulheres no domínio político e económico também
já é (ou vai sendo…) reconhecido mundialmente. Tudo isto são conquistas árduas
e meritórias.
Mas depois olhamos
para os “factos duros” e somos forçados a perceber que muito está ainda por
fazer. As últimas semanas têm sido pródigas em derrotas simbólicas para as
mulheres; por exemplo quando alguma multinacional, como a Zara ou a McDonald’s,
decide por razões puramente gananciosas criar produtos “neutros em género”,
estes são invariavelmente uma capitulação ao gosto predominantemente masculino.
Outro caso amplificado pelas redes sociais é a foto agora divulgada de Leonardo
DiCaprio, aos dois anos de idade, carregado pelos pais; a “notícia” que se
tornou viral não versa sobre o actor enquanto jovem, mas sobre as críticas às
axilas não depiladas da sua mãe, como se esta não tivesse o direito de decidir
sobre como tratar o próprio corpo (as guedelhas do pai nunca são referidas).
Esta exigência mais
alta pode ser injusta, mas nem é nada comparado com o que se passa no mercado
de trabalho, onde as mulheres participam, sim, mas continuam – não obstante
legislação já antiga que procura assegurar “salário igual por trabalho igual” –
a receber menos que os seus colegas homens. Quanto menos? As variações são
grandes consoante o sector de actividade e o país, mas grosso modo será cerca
de 25% a menos para o mundo todo, 15% se contarmos apenas os países da OCDE,
onde alguns fazem fraca figura (Estónia ou Países Baixos, por exemplo) e outros
ficam melhor na fotografia (os poucos dados disponíveis para o Luxemburgo
apontam para uma diferença de 8,6%). No Reino Unido, novos cálculos afirmam que
ser mulher pode significar, no total da carreira, auferir menos 400 000 euros
que o seu colega masculino. É o preço de uma casa…

Aparentemente ainda
não. Por isso a missiva escrita por uma estudante paraguaia sobre o caso, e que
começa com as palavras “ontem mataram-me”, é tão forte quão difícil de ler sem
sentir lágrimas nos olhos. Por isso foram criadas nas redes sociais as
campanhas #ViajoSola e #NiUnaMás. Ou seja, nem mais uma mulher duplamente
vítima: de crime, e do machismo remanescente.
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