Abril
1934. O chanceler da Alemanha, Adolf Hitler, ordena ao engenheiro Porsche que lhe
construa “um carro para o povo” de forma a que o alemão médio utilize as novas
auto-estradas construídas pelo regime nazi. Hitler vai mesmo ao ponto de
estabelecer as especificações do futuro carro e sugerir ideias para o seu design. O Volkswagen Tipo 1 foi apresentado
já perto do início da guerra, pelo que a produção do popularíssimo “carocha”, nome
atribuído pela forma do carro fazer lembrar um escaravelho, só se iniciou
verdadeiramente em 1945 (e só terminou, no México, em… 2003).
O
Carocha foi tão bem-sucedido que criou um monstro, uma gigantesca multinacional
que se tornou obcecada em ser a maior companhia automóvel do mundo – feito que
conseguiu recentemente, ultrapassando a Toyota. Mas, tal como a companhia
japonesa – que deixou cair a sua proverbial qualidade de construção para
conseguir vender mais carros – também a Volkswagen só viu uma forma de iludir
os consumidores para os levar a escolher os seus produtos: mentir. Ou dito de
outra forma, contando-nos histórias da carochinha.
Quem
percebe algo de carros sempre soube que os motores a diesel são mais nocivos do
que a sua alternativa a gasolina: apesar de em teoria os diesel produzirem um
pouco menos de monóxido de carbono (e mesmo isso é discutível), estes motores emitem
quantidades insanas de partículas finas, diversos óxidos de nitrogénio que são
altamente mortíferos para humanos, animais e plantas. Para além disso provocam smog,
um problema horrífico que os americanos conseguiram resolver nas suas cidades
há mais de 20 anos (os carros a diesel representam ali 2% do mercado) e que é
agora uma especialidade europeia – a tal ponto que Londres, Paris e Bruxelas,
por exemplo, começam timidamente a discutir a hipótese de ilegalizar os motores
a diesel dentro do perímetro urbano, tão má é a qualidade do ar.
Os
“filtros de partículas” que a indústria automóvel nos vendeu como solução para
o problema não passam de histórias da carochinha, por vezes com a cumplicidade
dos condutores: filtram muito pouco e durante pouco tempo, tendo a prazo de ser
substituídos (a um custo elevado); adicionalmente tiram potência ao motor. Ou
seja, quando chega a altura de trocar, praticamente ninguém substitui o filtro
de origem por um novo, mas para a Volkswagen (e outras marcas) é igual: os
testes já estão passados e o dinheiro já está do seu lado. E muito desse
dinheiro é usado em lobby contra os limites legais de emissões poluentes, não
porque estes não se justifiquem ou sejam impossíveis de cumprir, mas sim porque
as verdadeiras soluções para reduzir a poluição provocada pelos motores de
carros, a diesel ou a gasolina, são impopulares: caras, complicadas, e
penalizadoras da performance.
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